Universidade de Coimbra comemora 735 anos "no rumo certo"
Durante a cerimónia, Herman José recebeu o prémio Universidade de Coimbra 2025.
"Herman José é, indiscutivelmente, o humorista mais consagrado do Portugal democrático", palavras do Reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, num elogio ao vencedor do Prémio UC 2025, cuja distinção foi entregue durante a cerimónia dos 735 anos da UC, na Sala dos Grandes Atos. Nos seus 50 anos de carreira, que coincidem com os 50 anos do 25 de Abril, o humorista soube "ir brincando com as nossas virtudes e os nossos defeitos", considera Amílcar Falcão, "sem necessitar de cair na vulgaridade que carateriza o humor fácil". Para o Reitor da UC, Herman José é um "homem culto, inteligente e sensível". "Creio estar a ser justo se disser que o percurso de vida do nosso premiado é uma fonte de inspiração para todos nós e para as gerações futuras", salienta Amílcar Falcão.
“Ser homenageado nesta instituição de tanto prestígio, que há séculos ilumina o pensamento e o saber, é a maior das honras”, começa por agradecer Herman José. Num tom humorístico, o premiado compara a época atual, em que “basta assumir um atropelamento num podcast para se ter direito a abertura de um jornal televisivo”, com “os tempos do gigantismo criativo de Miguel Torga, um dos meus alunos favoritos desta ilustre instituição, que cursou medicina, mas também dissertou sobre a dureza da vida”.
Herman José destaca ainda Eça de Queiróz “que também por aqui passou, denunciou tantos vícios da nossa sociedade, curiosamente sem nunca se ter debruçado sobre o verdadeiro dilema do estudante de Coimbra, que é: gastar dinheiro nos livros ou na cervejaria?” O discurso soltou gargalhadas na Sala dos Capelos, com Herman José a enunciar outras personalidades que estudaram – ou não – na UC, como é o caso de Luís Camões, “se foi aluno ninguém sabe ao certo, é bem possível que tenha falhado a época normal e mandado dizer que faria melhoria na segunda fase”.
Num tom mais sério, faz referência ao “grande Zeca Afonso, cuja música se tornou a voz da liberdade”. O humorista considera que, da mesma forma que Coimbra “lutou pelo pensamento livre, eu cá fui lutando à minha maneira pela livre gargalhada” porque “rir ainda é uma melhores formas de lutar contra a submissão”. Herman José terminou alertando para os “ventos fortes que sopram do extremo estibordo, também conhecido por extrema-direita, que precisam mais do que nunca que elevemos as nossas vozes a bombordo, nunca permitindo que levantem o ferro desta maravilhosa baía a que estamos atracados desde abril de 1974, chamada Democracia”.
A apresentação do laureado esteve a cargo do diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Manuel Portela, que considera o humorista "um ícone da cultura portuguesa, cuja carreira exemplifica a capacidade de reinventar e desafiar os limites do entretenimento". Num diálogo idealizado entre apresentador e premiado, no qual foram nomeadas várias personagens do imaginário de Herman José, como José Estebes, Serafim Saudade e Diácono Remédios, Manuel Portela justificou a homenagem: "Por nos fazer pensar. Pela invenção. Pela inteligência. Pela criatividade. Pela liberdade. Por estar aqui connosco. Por ter escolhido essa forma de vida. Por coincidirmos no calendário cósmico".
A diretora do Santander Universidades Portugal, Inês Gouveia, recordou a época em que Herman José surgiu, "estávamos a aprender a viver numa liberdade nova, e foi isso que o Herman José nos ensinou". Sobre a escolha do premiado considera "uma coragem enorme da Universidade de Coimbra de se abrir e rasgar ao mundo com este humor e é isto que perpetua esta instituição".
Com 735 anos, a Universidade de Coimbra está "no rumo certo", considera o Reitor da UC. Num dia de celebração, Amílcar Falcão focou-se nos aspetos positivos que marcam a UC dos dias de hoje, começando por fazer menção "ao esforço que tem sido feito ao longo dos últimos anos para criar mais e melhores condições de trabalho". O Reitor enumera algumas das medidas implementadas, "flexibilização de horários, dispensa no dia de aniversário, mobilidade intercarreiras", bem como o mais recente programa UC+Vida, "porque são as pessoas que estão na fila da frente para o sucesso da UC, é a elas que devemos estar profundamente agradecidos".
No plano financeiro, o balanço é positivo: “verificamos que em 2018 o financiamento plurianual que a UC tinha em carteira rondava os 180 M€, sendo que, no final de 2022, já íamos nos 300 M€, no final de 2023 nos 360 M€ e, no final de 2024, atingimos os 450 M€”. Relativamente ao PRR, o ponto de situação é igualmente positivo, “nas Agendas Mobilizadoras a nossa execução ronda os 66%, colocando-nos no pelotão da frente deste estruturante programa nacional”.
O Campus da UC na Figueira da Foz também mereceu especial destaque na intervenção de Amílcar Falcão. “Neste ano letivo, já lá estão a funcionar três cursos conferentes de grau e outros tantos estão prontos a ser submetidos à A3ES”. Para o ano letivo de 2026/2027, o Reitor da UC prevê duplicar a oferta educativa e concluir o projeto de expansão das instalações da Quinta das Olaias.
A integração da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra na Universidade de Coimbra é outra das vitórias enunciadas por Amílcar Falcão. A tomada de posse do novo diretor da Unidade Orgânica deverá ocorrer até 1 de janeiro de 2026. “No próximo ano letivo, a Escola Superior de Enfermagem terá já a sua componente letiva integrada na oferta da Universidade de Coimbra”, avança.
Ao nível cultural, a UC tem estado “empenhada em promover a convergência entre criatividade, tecnologia e inovação social”. Neste sentido, surge “o conceito de Hub Cultural, que pretende intensificar as valências do Colégio das Artes, que está integrado na Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, e do Teatro Académico de Gil Vicente, credenciado na Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, consolidando a UC como referência na produção artística, na formação de públicos e na investigação aplicada às Artes”.
Amílcar Falcão terminou com palavras de agradecimento a estudantes, corpo técnico, investigadores e docentes, “só com o vosso inestimável contributo conseguiremos levar mais longe e elevar mais alto o nome da Universidade de Coimbra”.
Para o presidente do Conselho Geral [em exercício até à tomada de posse dos membros cooptados e eleição do presidente para o mandato 2024-2028], Carlos Henggeler Antunes, "a Universidade de Coimbra é uma instituição de criação, análise crítica, transmissão e difusão de cultura, de ciência e de tecnologia que, através da investigação, do ensino e da prestação de serviços à comunidade, contribui para o desenvolvimento económico e social, para a defesa do ambiente, para a promoção da justiça social e da cidadania esclarecida e responsável, e para a consolidação da soberania assente no conhecimento". Carlos Henggeler Antunes defende que a UC tem o dever de "contribuir para a difusão e a compreensão pública da cultura humanística, artística, científica e tecnológica, assim como para a transferência de conhecimento e sua valorização social e económica".
O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Universidade de Coimbra (CT.UC), António Trindade, salienta "o reconhecimento, a recompensa e a valorização das pessoas são alavancas fundamentais para o sucesso da nossa Universidade", sendo este um dos pilares de ação da CT.UC. "É com grande satisfação que vemos o atual Plano Estratégico da UC reafirmar o compromisso de valorizar e cuidar da comunidade académica, reconhecendo as Pessoas como o ativo mais importante da Universidade de Coimbra".
Reveja aqui a cerimónia na íntegra
A cerimónia contou ainda com os tradicionais momentos de entrega das cartas doutorais aos novos Doutores e de homenagem aos novos jubilados e aposentados. Foi também prestado tributo aos novos Professores Eméritos da Universidade de Coimbra, título instituído para distinguir docentes e investigadores, pela ação e prestígio no campo académico e/ou científico e pela contribuição para a projeção nacional e internacional da UC.
Assista ao discurso do Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, aqui, e do Presidente do Conselho Geral [em exercício até à tomada de posse dos membros cooptados e eleição do Presidente para o mandato 2024-2028], Carlos Henggeler Antunes, aqui. O discurso do laureado com o Prémio Universidade de Coimbra 2025, Herman José, está disponível aqui.
Reveja ainda o discurso de apresentação do laureado proferido por Manuel Portela, professor da Faculdade de Letras e Diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, aqui, da Diretora do Santander Universidades Portugal, Inês Gouveia, aqui, e do coordenador da Comissão de Trabalhadores da Universidade de Coimbra, António Trindade, aqui.
Professores/as eméritos/as 2025
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra:
António Dias de Figueiredo
Bernardete Ribeiro
Carlos Fiolhais
Christopher Brett
Domingos Xavier Viegas
José Dias Urbano
Teresa Vieira
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra:
Carlos Fortuna
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra:
Maria de Fátima Silva
Maria Luísa Portocarrero
Lúcio Cunha