Dia Mundial do Cérebro: como é que reconhecemos os objetos?

No Dia Mundial do Cérebro, assinalado a 22 de julho, destacamos uma investigação que tem vindo a ser conduzida pelo Proaction Lab. Os cientistas procuram perceber mais sobre o funcionamento do cérebro, através de um estudo que analisa o reconhecimento de objetos.

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Ana Bartolomeu
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Diana Taborda (tradução)
22 julho, 2024≈ 3 mins de leitura

© UC l Ana Bartolomeu

Tudo começou com um caso clínico encaminhado para o docente e investigador da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), Jorge Almeida. O utente, após ter sofrido um AVC, apresenta dificuldades em reconhecer materias. "Ele sabe o que é uma garrafa, sabe para que serve, reconhece o formato, mas o problema é quando o questionamos sobre o material de que é feita", explica o investigador. No entanto, o paciente consegue identificar um pedaço isolado de plástico ou madeira, ou seja, "tem uma capacidade normal de processar material quando este não está associado a objetos".

O caso levou os investigadores do Proaction Lab numa missão para descobrir se o cérebro apresenta diferentes processos neuronais no reconhecimento de materiais, associados ou não a objetos do dia a dia. "A ideia é tentar perceber como é que um cérebro normal processa informação visual", afirma Jorge Almeida. Para isso, estão a ser feitos testes com recurso a ressonâncias magnéticas a pessoas sem qualquer tipo de lesão cerebral.

Aos voluntários é mostrado um conjunto de imagens, em seis rondas. "Algumas são imagens ampliadas de materiais – por exemplo, madeira, metal e plástico – e para cada um destes materiais temos imagens com objetos feitos a partir deles, como uma colher de pau, uma colher de plástico, uma colher de metal", explica o investigador Akbar Hussain, que acompanha as ressonâncias magnéticas. "Em cada ronda pede-se ao voluntário que reaja apenas a um material: por exemplo, se vir plástico, carrega num botão, se for um garfo de plástico carrega também no botão."

Os resultados vão ser depois analisados e comparados com os exames realizados ao paciente.

O estudo decorre no âmbito do projeto científico ContentMAP, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (European Research Council, com a sigla em inglês ERC). O ContentMAP procura perceber como é que a informação sobre objetos está organizada no cérebro. "A nossa proposta é a de que está organizada num mapa, daí o nome do projeto", esclarece o também diretor do Proaction Lab e investigador do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC), Jorge Almeida. De recordar que o ContentMAP foi o primeiro projeto português da área da psicologia a conquistar apoio do ERC.

A investigação integra também o projeto da ERA Chair CogBooster, financiado pela Comissão Europeia com 2,5 milhões de euros para capacitar a FPCEUC como um centro de excelência na investigação e no ensino da neurociência cognitiva.